PACCE: QUEM SOMOS NÓS?
7.12.12
Postado por Gustavo Rocha
Você já parou para pensar se fazemos realmente parte do Programa* ou se
ele faz parte de nós?
Às vezes, ignoramos tal questionamento ou não temos certezas sobre este.
O primeiro fator importante que podemos notar é a desmotivação dos
bolsistas para cumprir suas atividades. Já o segundo fator vem dos bolsistas
que têm objetivos opostos do Programa.
Vários fatores nos levam a pensar desse modo, pois temos várias
obrigações acadêmicas e sempre deixamos as atividades do Programa como
subjacentes. Vivemos em um cotidiano corrido que não nos permite parar para refletir.
Levamos, então, uma vida sem questionamentos. Focamos apenas nos nossos
objetivos do curso, como por exemplo: estudar para uma prova difícil de cálculo,
entregar um artigo de Funcionalismo ou se preparar para um seminário de
Biologia Aquática.
Imaginemos agora uma legião de soldados romanos conquistando vastos
territórios para o Império Romano. Eles lutavam juntos, mas agiam por suas
necessidades pessoais (salários e terras). Eles estavam preocupados apenas nas
armas, nas estratégias de lutas, na formação militar, enfim, na sua
sobrevivência. Raros eram os soldados que entendiam o significado daquela
marcha.
Agora, já pensou se
cada um dos soldados soubesse o significado da conquista?
O exemplo acima ilustra bem como agimos dentro Programa, pois os
bolsistas trabalham juntos, porém muitos só pensam nas benditas 12 horas semanais
que devem cumprir. Isto se chama responsabilidade individual. Todavia, esta
responsabilidade acentuada acarretou numa cultura de “vale horas?”. Como disse
outrora o Breno Matias (Engenharia Metalúrgica) “as pessoas pensam que recebemos
para trabalhar, mas na verdade trabalhamos para receber”. Isso nos leva a
pensar que as horas cumpridas são as consequências de nossos trabalhos. Em
contrapartida, muitos bolsistas pensam que as horas são as causas principais do
trabalho.
Assim sendo, as conseqüências são desastrosas, pois promove a interação
forçada que vai de oposto aos preceitos da metodologia norte-americana da
Aprendizagem Cooperativa. Porquanto, a interação face-face é o que gera o
aprendizado. Se não há interação, não há aprendizado mútuo.
Será que nossas ações
afetam o Programa?
Em 1998, a seleção brasileira perdeu para França na final da copa do
mundo por 3 a 0. O que aconteceu? O Brasil vinha embalado para conquistar seu
quinto campeonato com um técnico exímio, Zagalo, e um elenco fenomenal. Porém,
antes da final, o melhor jogador brasileiro, Ronaldo, teve convulsão horas
antes do jogo. O motivo não se sabe, ou se foi uma crise nervosa, ou uma reação
a um medicamento. O fato é que abalou todo o time e a comissão técnica que
prejudicou o desempenho da equipe na partida final.
Ora, se pensarmos que somos peças fundamentais e que afetamos toda uma
estrutura, então qualquer ação nossa pode interferir no desempenho dos nossos
colegas. Um comentário como este na fila do RU “na COFAC é moleza, não faço
nada e ganho todo mês” demonstra o lado negro da autonomia intelectual. Essa
falsa montagem de célula evidencia a má-fé do bolsista. Outrora, disse a Samara
Mayra (Pedagogia) “esse tipo de bolsista não está enganando o Programa. Ele
está enganando a si mesmo”.
No início do ano, João Paulo Góis (Agronomia) veio me pedir ajuda, pois
ele estava com dificuldades de montar sua célula. Eu relatei para ele toda a minha
experiência na montagem de célula. Atualmente, ele comentou comigo que foi
sucesso sua célula, pois aquela palavra de motivação foi o suficiente para superar
as dificuldades em manter sua célula viva e não desistir diante dos desafios.
Agora vem
a tona a pergunta:
O Programa faz parte de nós?
É inquestionável que nós fazemos parte do Programa, pois o fazemos na
prática. Estamos em treinamento contínuo. Porém, não damos significados a essas
práticas e treinos. Não conseguimos visualizar a formação como palco de
aprendizado, a atividade interativa com parte formação discente, a leitura de
memorial como valorização do bolsista, o envio de relatório como fonte de auto-avaliação
etc.
Eu, Gustavo Ewerson (Letras), nunca fui para a folha suplementar. Sempre
enviei meus relatórios em dia. Nunca fiz reposição. Mas tudo isso não bastava
para ter ciência do que tava fazendo. Confesso que eu tive a lucidez do que
tava fazendo no segundo semestre de 2011. Após a Colônia de Férias, vi que meu
trabalho tinha um significado maior. O que seria isso? Um despertar? Sim, um
despertar que me descobri professor.
O Programa de Aprendizagem Cooperativa em Células Estudantis (PACCE) tem
um potencial enorme de mudar concepções de pessoas. Neste ano, a Colônia de
Férias transformou a vida de vários universitários. Não sabemos ao certo como
despertá-los. Talvez uma pequena brecha de luz seja o suficiente para iluminar
a vida de uma pessoa. A única certeza que temos é que fazemos parte de algo
gigantesco e este faz parte de nós, mesmo que nós não percebamos.
É preciso libertar-se dos grilhões que nos prendem a rotina
universitária para atuarmos no Programa como peça fundamental. Neste Programa,
tão grande que é, os únicos capazes de resolver os problemas dele somos nós.
Como disse Herman Melville “Não podemos viver apenas para nós mesmos.
Mil fibras nos conectam com outras pessoas; e por essas fibras nossas ações vão
como causas e voltam pra nós como efeitos”.
Afinal, quem somos nós?
Programa de
Aprendizagem Cooperativa em Células Estudantis (PACCE)
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